sábado, 30 de julho de 2011

Exposição "Alexander McQueen: Savage Beauty" no Metropolitan Museum of Art é um sucesso!

Imagem digitalmente reforçada pelo fotógrafo Solve Sundsbo, que transformou
modelos vivas em manequins de museu. A imagem aparece no catálogo da exposição.

  A exposição fashion do estilista inglês Alexander McQueen, no Metropolitan Museum of Art, em New York, que se encerra em sete de agosto, provavelmente entrará no ranking das 20 exposições mais populares em museus. "Alexander McQueen: Savage Beauty" definirá um record de público para uma exposição de moda, ultrapassando os 576.000 visitantes da exposição "Superheroes: Fashion and Fantasy" do ano de 2008.

"Dress, no. 13". O famoso vestido que
foi pintado no meio do desfile em sua
coleção de primavera/verão de 1999.
  Havia uma razão para Alexander McQueen, que cometeu suicídio no ano passado com a idade de 40 anos, ser considerado um dos maiores fashion designers de sua geração, admirado por sua espantosa habilidade técnica, além de ser idolatrado pelos estudantes de moda por sua coragem de arriscar sem ter medo de errar. "As pessoas não querem ver roupas", disse ele uma vez. "Eles querem ver algo que alimenta a imaginação.".

  Entretanto, enquanto ele era reverenciado na moda e seus desfiles estão entre os mais vigiados, quase ninguém poderia imaginar que, como tema de uma exposição do museu, o Sr. McQueen iria revelar-se quase tão popular quanto Pablo Picasso ou Vincent van Gogh.

  Em algum ponto deste final de semana ou menos, e com ainda uma semana para completar sua temporada de três meses, a popular retrospectiva de McQueen no Metropolitan Museum of Art, com base em sua trajetória atual, irá definir um recorde de público para uma exposição de moda. No momento em que a exposição encerrar, em sete de agosto, certamente, estará entre as 20 exposições mais populares já expostas em um museu, desde que o Met começou a acompanhar o fluxo de pessoas acerca de suas exposições (ou seja, provavelmente será uma das exposições mais famosas do museu em 50 anos).

  Desde a exposição, inaugurada em maio, as galerias do Met foram "atacadas" por centenas de pessoas ao mesmo tempo, da manhã até a noite, às vezes com longas horas de espera nas filas atrás das cordas, emolduradas por famosas obras de Gustave Moreau, Auguste Rodin e Henri Regnault.

Alguns vestidos (e sapatos, é claro) do último desfile de McQueen ainda vivo, o Plato's Atlantis.

  Sua duração foi estendida pelo menos duas vezes, e, para as últimas noites, seis e sete de agosto, o museu anunciou que vai ficar aberto até a meia-noite, a primeira vez que o Met tem mantido uma exposição aberta até tão tarde. Na manhã de sexta-feira, 553.000 pessoas tinham visto o show, incluindo alguns que teriam professado que não se importavam com nada no mundo da moda.

  "Você toma um meio como a moda, que você não acha que vai ter tamanha profundidade, e então você descobre que ele faz!", disse Edward Murguia, 67 anos, professor de sociologia da Texas A&M University, enquanto saía da exibição em uma tarde recente. Sua esposa havia o arrastado junto dela, ele disse. "Você pode apenas ver as pessoas andando e dizendo que esta é a verdadeira arte, e eles são fascinados por isso", disse ele. "Eu nunca poderia imaginar o quanto ele produziu em uma vida tão curta. É incrível olhar para o nível de detalhe de seu trabalho".

Pessoas aguardando para conferir a exposição.
  O grau em que "Alexander McQueen: Savage Beauty" despertou grande escala do interesse público teria sido um feito notável para qualquer exposição dedicada à obra de um único artista. Mas o fato de que foi escolhido aquele cuja média foi de design de moda faz com que esta seja uma conquista fenomenal, superando as expectativas dos funcionários dos museus e, talvez, desafiando-os em uma instituição onde, até anos recentes, costume shows tinham sido historicamente confinados em um porão.

  Como esse sucesso aconteceu não é tão fácil de explicar, nem mesmo com a crescente importância do Sr. McQueen durante sua curta carreira. Você pode ter ouvido seu nome por causa das circunstâncias de sua morte, ou, em abril, por causa do vestido de noiva criado para Catherine, Duquesa de Cambridge, por Sarah Burton do estúdio que lhe sobrevive. Ou você pode ter ouvido falar dele bem antes disso, como o provocador britânico que freqüentemente torceu seu nariz para a família real, que uma vez criou calças que foram cortadas tão baixo que foram apelidadas de "bumster" (algo como "calças de vagabunda"!), que tinha problemas com drogas e bebidas, e que sem medo, e muitas vezes de forma brilhante, apresentou as coleções de roupas maravilhosamente imaginativas para o qual os modelos foram lançados como prisioneiros em um asilo de loucos, peças de um jogo de xadrez ou vítimas de cirurgia plástica extrema.

A polêmica saia "Bumster".
  E ainda, ajudando a explicar as longas filas e claustrofobia, induzindo multidões ao Met, você não poderia ter tido uma imagem muito clara de quem era o Sr. McQueen, como designer e como pessoa, e muito provavelmente como um artista, caso não tenha visto a exposição. "É realmente uma ligação emocional, e eu acho que tem que ser a chave para tudo isso", disse Trino Verkade, a coordenadora de longa data de criação do estúdio Mr. McQueen, que gastou incontáveis ​​horas nas galerias neste verão, vendo as pessoas e como eles reagem a seus projetos. "Todo mundo sente emoções", disse ela. "Eles podem facilmente reconhecê-los no trabalho de Lee," referindo-se ao designer pelo nome que seus amigos mais íntimos o chamavam, "e eles se identificaram com essas emoções e como andam completamente juntas."

Beleza Selvagem

  Sobre a exposição, a sua teatralidade fantástica e efeitos especiais que incluem um holograma tridimensional de Kate Moss (bem como sobre as roupas, que incluem misturas assustadoras como vestidos feitos de penas, conchas de moluscoslâminas de médicos impressas para olhar como se eles estavam sangrando, os crânios de resina e cabelo humano simulado) expôs o trabalho do Sr. McQueen para o tipo de público que o estilista havia e que sempre sonhou.

O holograma de Kate Moss, que foi exibido em um dos desfiles de
Alexander McQueen, também faz parte da exposição.

  Ms. Verkade disse que muitas vezes se queixou de que, época após época, ele estava mostrando suas roupas para os 700 mesmos ou para editores e compradores. Em 2009, quando ele foi um dos primeiros estilistas a transmitir um desfile ao vivo para que todos pudessem assistir ao mesmo tempo, o site de hospedagem caiu sob a pressão da demanda do consumidorEntão, seria incorreto sugerir que o Sr. McQueen foi subestimado em sua vida: as pessoas clamavam para ver seus shows, embora seu comportamento extremo pode, por vezes, agravar os editores que o seguiam de perto. Anna Wintour escreveu em uma carta do editor na Vogue que ele havia sobrevoado de Londres para ser fotografada por Irving Penn e depois se recusou a deixar seu quarto de hotel.

Vestido de penas do desfile "The Horn
Of Plenty
", outono/inverno de 2009/2010.
  Por ser tímido, Alexander parecia ser capaz de expressar-se mais abertamente através de seus projetos, mas às vezes eram difíceis de ver claramente quando os vestidos passavam tão rapidamente em uma passarela. Agora, em um museu, as roupas que sugerem o romantismo, as batalhas entre a escuridão e a luz, entre o amor e tristeza, ou mesmo a vida e a morte, tomam um novo significado.

  Em certo sentido, a popularidade da exposição reflete não apenas o interesse a ampliação cultural na moda, mas também um interesse muito especial na obra de McQueen por parte dos jovens, incluindo uma geração que é definida por seu abraço de tecnologia de uma maneira que fascinou Alexander e influenciou seus projetosEm faculdades de moda de todo o país, seu trabalho é constantemente citado entre os alunos como a mais criativa e inspiradora. Simon Collins, reitor da escola de moda na Parsons New School for Design, disse: "Eu acho que a sua admiração era tanto para a paixão de Lee para a criatividade artística pura, tanto quanto o foi para o que ele realmente projetou."

Vestido da coleção "Eshu". Outono/Inverno
de 2000/2001.
  Quando saiu da exibição, Kristin Goett, uma aspirante à advogada de 15 anos de idade, de South Salem, NY, disse, na medida em que ela estava em causa, que McQueen era um nome familiar."Ele realmente mudou a forma como a moda é vista hoje", disse ela. "Ele desafiou a pensar de uma maneira diferente. Sua criatividade foi mostrada de maneiras que podem não ser confortáveis de ver, nem da maneira que estamos acostumados a ver, mas acho que as pessoas realmente gostam de ver diferentes formas de criatividade, como a que está sendo mostrada aqui."

  Para o Met, que, como a maioria das instituições culturais, tem lutado para manter o financiamento durante a recessão, a exposição tem sido uma colheita maior. Além dos US$ 10 milhões arrecadados por meio de sua anual Costume Institute gala, organizada pela Sra. Wintour, o museu se beneficiou das vendas de mercadorias relacionadas e aumentou assinaturas de adesão. O calor do verão extremo que levou as pessoas  para dentro dos lugares e um número excepcional de turistas em Nova York foram outros fatores que têm desempenhado em seu atendimento de alta, disse Harold Holzer, porta-voz Met.

Visitantes observando as criações de McQueen.
  Desde a semana passada, o museu tinha vendido 55 mil cópias do catálogo da exposição (45 dólares) no seu edifício por si só, enquanto o número de novos membros que se juntaram ao museu (o que lhes permite saltar a linha na exposição) a partir da abertura até 24 de julho quase dobrou para 17.500 de um período comparável do ano passado.

  Em sua segunda visita à exposição, Allan Bennington-Castro, que recentemente se mudou para New York do Havaí, onde ele possuía uma galeria de arte, disse que o impacto do designer, mesmo depois de sua morte, tinha-se estendido muito além da moda e das culturas gay se direcionando ao mainstream, a partir do casamento real e de alguns dos sapatos em forma de garra usados por Lady Gaga, os Armadillo's, que incluiu uma referência para o designer em "Fashion Of His Love", música de seu novo álbum"Nesta geração, ele é muito mais relevante", disse Bennington-Castro. "Então, ao invés da tradicional Gucci ou Prada, é Alexander McQueen."


Fonte: New York Times


quarta-feira, 13 de julho de 2011

Especial: São Paulo - Uma visão artística da metrópole; Maurits Escher

   Geometria, confusão, eternidade, magia, infinitude, perfeição, espetáculo, ilusão, espanto... Você já cogitou a possibilidade de conhecer obras que brincam com o imaginário, que deixam você realmente confuso e, principalmente, intrigado? Então prepare-se: certamente, após esse post, sua visão artística será dramaticamente transformada e sua mente será modificada. E, não, isso não é um exagero. Prepare-se para uma viagem - sem volta - para o mundo mágico de Maurits Cornelis Escher! Nós do Arte em Primazia tivemos a incrível oportunidade de viajar à São Paulo e pudemos conferir de perto a exposição "O Mundo Mágico de Escher", apresentada e patrocinada pelo Centro Cultural do Banco do Brasil, e trouxemos algumas imagens exclusivamente para vocês, leitores do nosso blog que, por hora, não tem acesso a esses locais. Aliás, a oportunidade de conhecer pessoalmente as obras de Escher nesta exposição foi magnífica, mas poder compartilhar tudo isso com os leitores do blog é magnânimo e satisfatório.
   Neste post - o mais completo já feito sobre a exposição - você conhecerá a vida do artista, além de poder, de fato, mergulhar em suas obras e conhecer a fundo os conceitos por trás de algumas famosas litografias e xilogravuras. Você está preparado? 


Conhecendo um artista brilhante

Maurits Cornelis Escher

      O "Mago da geometria", Maurits Cornelis Escher, foi um artista holandês que nasceu na cidade de Leeuwarden, 17 de junho de 1898. Estudou arquitetura e artes decorativas, mas dedicou-se ao desenho, a litografia e a xilogravura. Foi um artista gráfico famoso por construções de imagens impossíveis e ilusões de ótica cuja a qualidade técnica sempre respeitava as regras da geometria e da perspectiva.
   Graças a admiração pelos mosaicos dos palácios Árabes, Escher criou uma técnica que lhe permitia inserir figuras e formas em polígonos sem alterar a área original. Representar o espaço (tridimensional) em um plano (bidimensional), era, para Escher, um desafio matemático que resultou em obras fantásticas de ilusão de ótica. Uma das principais contribuições da obra deste artista está em sua capacidade de gerar imagens com os efeitos destas ilusões óticas. Foi numa visita à Alhambra, na Espanha, que o artista conheceu e se encantou pelos mosaicos que havia neste palácio de construção árabe. Escher achou muito interessante as formas com que cada figura se entrelaçava a outra e se repetia, formando belos padrões geométricos. Este foi o ponto de partida para os seus trabalhos mais famosos, que consistiam no preenchimento regular do plano, normalmente utilizando imagens geométricas e não figurativas (como os árabes faziam por causa da sua religião muçulmana, que proíbe tais representações).
O artista em processo de criação.
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   A partir de uma malha de polígonos, regulares ou não, Escher fazia mudanças, mas sem alterar a área do polígono original. Assim surgiam figuras de homens, peixes, aves, lagartos, todos envolvidos de tal forma que nenhum poderia mais se mexer e representados em um plano bidimensional. Destacam-se também os trabalhos do artista que exploram o espaço. Escher brincava com o fato de ter que representar o espaço, que é tridimensional, num plano bidimensional, como a folha de papel. Com isto ele criava figuras impossíveis, representações distorcidas, paradoxos. Mais tarde ele foi considerado como um grande matemático geométrico.
   Escher morreu em Março de 1972 e seu trabalho continua fascinando gerações pela sua singularidade e originalidade. Ele hoje é uma referência. É um homem estudado e grandemente apreciado pelos matemáticos e cientistas, ainda que ele não tivesse uma formação formal de matemática e física. Entretanto, foi um homem modesto e simples que nem sequer considerava a si mesmo um artista ou um matemático.



O Mundo Mágico de Escher

Castrovalva, 1930
Litografia (53,6 x 41,8 cm)
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   "Talvez eu esteja sempre em busca do espantoso e, por isso, procure apenas provocar espanto no espectador", escreveu a um amigo o artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972).
   A arte de Maurits Escher vem maravilhando milhões de pessoas, de todas as idades e pelo mundo há mais de meio século. Escher nos confronta com fenômenos estranhos que, por parecerem firmemente integrados à realidade cotidiana, não se destacam de imediato. O espectador muitas vezes volta o olhar a imagem para conferir aquilo que viu. Esse segundo olhar é o momento de espanto, do piscar de olhos perplexo: só agora você se dá conta de haver algo estranho naquilo que viu nitidamente sem, no entanto, ter assimilado.
Natureza-morta e rua, 1937
Xilogravura (48,7 x 56,5 cm)
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   Certas obras como Cascata e Belvedere têm, à primeira vista, um ar antiquado. Mas quem olha bem percebe toda sorte de detalhes incongruentes. A água não corre para cima. Uma escada com um homem em pé não pode estar simultaneamente dentro e fora de um mirante. O mundo de Escher combina objetos incompatíveis. O artista sempre nos propõe a mesma questão: "Por que o mundo - ao menos o retratado na arte - não pode ser uma combinação de diferentes realidades?". Escher põe em evidência os vínculos entre tempo e espaço, entre eternidade e infinitude, na superfície plana do desenho. 




Dia e noite, 1938
Xilogravura (39,2 x 67,8 cm)
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Tradição e Renovação

Céu e água I, 1938
Xilogravura (43,4 x 43,3 cm)
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   Na pintura europeia ocidental, a perspectiva central é, tradicionalmente, o meio de vivenciar a profundidade de uma paisagem. Em seu interesse pela perspectiva, Escher se assemelha a um artista clássico. Até recentemente, o período italiano (1922-1935) era considerado como uma fase à parte em seu desenvolvimento artístico, sem conexão com o resto da obra. Belas imagens, mas muito tradicionais, dizia-se. O verdadeiro Escher teria desabrochado apenas em 1937, dois anos após a saída da Itália, quando surgem as ladrilhagens e as ilusões de ótica. Até então reinavam os temas tradicionais: paisagens, natureza, vistas urbanas.
Répteis, 1943
Litografia (33,4 x 38,5 cm)
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  Mas a crítica recente vem se conscientizando de que o realismo e a ilusão de ótica são para Escher ferramentas gêmeas, ideais para expressar a combinação da eternidade (perspectiva e espaço) com a infinitude (ladrilhamento e tempo). Esse insight permite discernir a existência de um fio ininterrupto na obra do artista. Novos pontos de vista surgem através da retomada e da recombinação de interesses antigos. 
   Na segunda metade do século XX, maré alta do abstracionismo, Escher manteve-se ligado ao realismo. Ao mesmo tempo, buscou uma forma de expressão, uma metáfora, para conceitos abstratos tais como a eternidade e infinitude. O ladrilhamento, ou preenchimento regular do plano, é, para ele, a solução ideal: teoricamente, um padrão de ladrilhagem pode se estender indefinidamente, tanto no espaço como no tempo.

Outro mundo, 1947
Entalhe em madeira (31,6 x 25,8 cm)
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   Escher fez duas contribuições específicas aos ladrilhamentos que vieram a desempenhar papel-chave em sua arte: substituiu as formas geométricas nuas, tais como paralelogramos, por imagens realísticas; e transformou essas imagens, fazendo-as evoluir em vez de se repetirem num padrão estático. Em uma só gravura, Predestinação, a unidade repetida se metamorfoseia de peixe em pássaro. Igualmente importante é que ele faz isso de forma tão natural que, aparentemente, nada de especial está acontecendo. Aqui, mais uma vez, trata-se de um momento de "piscar de olhos perplexo". Embora o ladrilhamento fosse considerado por Escher como "a fonte de inspiração mais rica de que me nutri", para o meio artístico, tratava-se apenas de uma brincadeira matemática, o que impediu que ele fosse oficialmente reconhecido como artista moderno por muito tempo. Durante longo período era mais fácil encontrar uma gravura de Escher em um departamento de matemática do que em um museu. Foi apenas em 1968, quatro anos antes de morrer, que Escher teve uma primeira mostra retrospectiva de sua obra em um museu de renome, o Museu Municipal de Haia.

As antigas paixões perduram

   Hoje é muito fácil alterar imagens no computador ou combinar objetos que nada têm a ver um com o outro, como em Dia e noite, com uma clicada de mouse. Mas Escher criava seus mundos estranhos com mais cuidado: talhando um bloco rígido de madeira ou arranhando a pedra para a litografia. Como nos jogos de fantasia, a arte de Escher cria seu próprio universo paralelo. Ela também demonstra como as coisas podem ser vistas de diferentes perspectivas ao mesmo tempo - algo que hoje se tornou clichê, graças ao Photoshop e aos programas de visualização 3D, mas que para Escher era a solução de um complexo quebra-cabeças, concebida na prancha de desenho. Seu novo universo nasceu e cresceu ao ser desenhado.
   A arte de Escher se encaixa no País das Maravilhas de Alice. Ela estica a noção de realidade para todos os lados. No entanto, o desejo do artista é de ordenar um universo caótico e, para isso, ele cria entidades que à primeira vista parecem possíveis, mas que de fato não podem existir. Trabalhando com conceitos clássicos da arte pictórica, como a perspectiva, o moto-perpétuo e o reflexo, entretecendo-os com sistemas de ladrilhamento do plano e outros conceitos matemáticos, Escher criou universos inteiros. Em carta de 4 de maio de 1929, enviada da Itália a um velho amigo, ele diz: "Não conheço prazer maior do que errar por vales e montes, de aldeia em aldeia, deixando a natureza sem artifícios agir sobre mim, apreciando o inesperado e o extraordinário, no maior contraste imaginável com o dia-a-dia caseiro". O inesperado e o extraordinário são os presentes que Escher nos deu em sua longa vida.


Uma verdadeira fonte de inspiração

O estilista britânico Alexander McQueen
se inspirou na obra "Metamorfose" de
Escher para criar estampas da sua coleção
de outono/inverno de 2009. (Clique para Ampliar)
   Por seu estilo único, atraente e deveras surpreendente, Escher é hoje um verdadeiro ícone do mundo das artes em geral. Um trendsetter! Cineastas, publicitários, designers, estilistas, arquitetos e até mesmo matemáticos se inspiram livremente em seus trabalhos. Certamente, para ele, utilizar de suas xilogravuras e litografias como clara inspiração para algum trabalho, seja ele visual ou físico, como uma construção, por exemplo, seria algo infinitamente mais surreal do que suas próprias criações. Soa até mesmo como ironia, já que Escher sempre buscou criar, através de suas obras, construções impossíveis de se realizar na vida real.



A magnífica exposição


Front side do folder da exposição. (Clique para Ampliar)

   O Centro Cultural Banco do Brasil tem a honra de apresentar O Mundo Mágico de Escher, a mais completa exposição dedicada ao artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) já realizada no Brasil. A mostra reúne 95 obras, entre gravuras originais, desenhos e fac-similes, incluindo todos os trabalhos mais conhecidos do artista e suas obras mais enigmáticas.
   Especialista em xilogravuras e litografias que tendem a representar construções impossíveis, explorações do infinito e padrões geométricos entrecruzados que passam por metamorfoses e se transformam aos poucos em formas completamente diferentes, Escher se tornou conhecido por sua grande capacidade de gerar imagens com impressionantes efeitos de ilusões de ótica.
   Com acervo pertencente à coleção do Haags Gemeentemuseum, que mantém o Museu Escher na cidade de Haia, na Holanda, a exposição conta com atividades interativas para exemplificar os princípios aplicados nas obras do artista gráfico. Isso possibilita ao público passar por uma série de experiências que desvendam os efeitos óticos e de espelhamento que Escher utilizava em seus trabalhos.
   Ao realizar O Mundo Mágico de Escher, o Centro Cultural Banco do Brasil espera proporcionar ao público brasileiro a oportunidade de conhecer de perto obras raras, que formam um mundo de sonhos, explorando o impossível e o infinito de forma lúdica e instigante.
Centro Cultural Banco do Brasil



Uma visão particular do mundo paralelo de Escher

Nossa produção em vídeo da exposição.


   Estive em São Paulo de 13 a 18 de junho. Partiria à Porto Alegre no sábado, dia 18, mas decidi que naquela sexta-feira, dia 17, eu deveria conhecer a exposição. Não poderia adiar um encontro tão importante como este. Eu tinha convicção de que não poderia sair daquela cidade sem visualizar pessoalmente as incríveis obras de Escher. Após uma manhã cheia, optei por queimar etapas:  deixei de almoçar para correr ao Centro Cultural Banco do Brasil.
Centro Cultural Banco do Brasil
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   Saindo do hotel, chamei um taxi. O taxista não conhecia o Centro Cultural e não sabia como chegar ao mesmo, nem com o endereço em mãos. Isso me irritava. Como ele não sabia? A ansiedade me consumia e cada segundo parecia um minuto. Os minutos me pareciam horas. Talvez, estivesse adentrando na famosa litografia "Subindo e descendo" ou em alguma das criações singulares e paradoxais de Escher. Eu já estava no clima das obras do famoso artista holandês, mas ainda não havia percebido isso. Espere, outro taxista conhece o caminho! Certo. Não exitei em trocar de carro. Agora estava a caminho do Centro Cultural Banco do Brasil. O trânsito fluiu com leveza e cooperou para que eu chegasse rapidamente ao meu destino - tão aguardado naquele momento. Paguei a corrida ao taxista que me orientou de como chegaria ao local da exposição. Aquelas ruas me recordaram alguns locais de Porto Alegre. Sentia intensamente a capital do Rio Grande do Sul naquele local. Era como se eu estivesse em casa. Tal atmosfera intimista me acolhia de uma forma interessante.
   Avistei uma agência do Banco do Brasil e, logo adiante, um prédio suntuoso, realmente belo e de arquitetura verdadeiramente marcante. Só poderia ser ali! Perguntei a uma senhora que estava próxima de mim; esta confirmou as minhas suspeitas. Eu estava diante do prédio do Centro Cultural Banco do Brasil.

   Certamente, a arquitetura do prédio aguçou-me a curiosidade e me fez ter ainda mais vontade de conhecer a exposição. Por conta disso, entrei às pressas no local. Não poderia mais perder tempo, afinal, havia encontrado o meu destino!
 "O Vale da Realidade Virtual" é, certamente, intrigante.
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Quando entrei por aquelas portas, me deparei com uma placa que identificava a exposição e advertia os visitantes sobre a exibição de um filme 3D chamado "O Vale da Realidade Virtual" que poderia ser assistido por todos aqueles que retirassem uma senha na bilheteria. É um passeio pelas obras de Escher, onde se visualiza em 3D a maneira como o artista brincava com o mundo que nos rodeia a partir de construções que são impossíveis no mundo real. Como deveria retirar uma senha e aguardar a sessão anterior terminar para assistir ao filme, infelizmente, em função do tempo curto que tinha, não pude assisti-lo.

A Sala da Relatividade: atração de sucesso.
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   A famosa "Sala da Relatividade" fica próxima da entrada principal, sendo uma das maiores atrações da exposição. Não por seu posicionamento (deveras estratégico), e sim, por que conquistou o público. Nela, por meio de um truque de perspectiva, têm-se a impressão de que as pessoas diminuem ou aumentam de tamanho conforme o lado em que estão posicionadas. É possível, assim, fazer com que o público que visita a exposição interaja através desse truque de perspectiva, tirando fotos dessa "grande brincadeira". Ressalto que, nesse instante, percebi a força que Escher tem para conquistar as pessoas: havia uma grande fila para aqueles que desejavam tirar fotos dentro da sala. O primeiro piso também possui um café, loja, bilheteria e guarda-volumes. 
"O Olho Mágico de Escher"
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O "Quebra-Cabeças Gigante"
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Mais adiante, próximo a bilheteria, há uma reprodução da obra Olho de 1946. Esta chama-se "O Olho mágico de Escher" e intriga aqueles que a observam com atenção. Novamente, a ilusão é o centro de tudo, e confesso que demorei para perceber inicialmente que um espelho reproduzia perfeitamente a imagem do curioso olho. Essa é a verdadeira essência das obras de Escher, que a curadoria soube reproduzir perfeitamente: você só percebe que há algo de errado com as obras na segunda "olhada"! Entretanto, o prefácio confuso e interessante da exposição já me animava. Senti que algo surpreendente e inimaginável me aguardava.

Interior do local. (Clique para Ampliar)
   A exposição foi estruturada de uma forma específica para que todos a conheçam, primeiramente, pelo terceiro andar, subindo o elevador após ultrapassar as interações do térreo. Depois de observar detalhadamente o "Olho Mágico" e a "Sala da Relatividade", decidi entrar no elevador e, finalmente, conhecer de fato as obras originais do artista. O "Quebra-cabeças gigante" também chama a atenção e intriga aos visitantes que andam pelos corredores do centro cultural..

O multifacetado "Cubo ao Cubo"
(Foto: Marcos Muzi)
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No terceiro andar, em uma das paredes, há uma reprodução de uma das obras de Escher (o que também ocorre nos outros pavimentos), além, é claro, de uma sala interna onde ficam as xilogravuras e litografias. Aliás, em salas onde as obras são condicionadas não é permitido o uso de câmeras fotográficas, infelizmente - o que é compreensível, já que muitas pessoas desrespeitam as regras que impedem o uso do flash, que danifica a cor das obras, o que resultaria em uma perda incomensurável para o mundo das artes. Logo na entrada desta sala, percebemos algumas de suas xilogravuras e litografias, e uma espécie de "linha do tempo artística" do holandês.
"O Poço Infinito" e o "Periscópio"
(Fotos: Marcos Muzi)
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Também destacam-se, entre as obras, salas interativas que brincam com os aspectos de perspectiva que Maurits costumava utilizar em suas gravuras (como "O Poço Infinito", que simula uma abertura luminosa no chão com o fundo aparentemente infinito, causando verdadeiros calafrios e uma estranha sensação de que você cairá a qualquer momento, e o "Periscópio" - os dois dialogam entre si e são notáveis inspirações da obra "Outro Mundo" de 1947) e o belíssimo "Cubo ao Cubo", localizado próximo à entrada, roubando a atenção de todos.

"Metamorfose Platônica"
(Foto: Marcos Muzi)
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Destacado pela sala de exposição das obras do artista, o segundo piso não possui muitas atrações. Entretanto, é um verdadeiro "prato cheio" para os nossos olhos. É o pavimento que mais me chamou a atenção e que, nesse instante, escrevendo sobre ele e revendo as fotos e vídeos deste andar, tenho ainda mais vontade de rever e de estar pessoalmente no local. Em contraposição com as obras malucas de Escher, logo na entrada da sala em que as obras são expostas, a primeira coisa que se observa é a intrigante escultura  chamada "Metamorfose Platônica". É, de fato, uma criação muito curiosa. Nela, sólidos geométricos se transformam uns nos outros conforme o caminhar do visitante. Isso é possível graças a um truque de reflexos proporcionado pelos espelhos. É realmente fascinante!
"Escada Virtual"
(Foto: Marcos Muzi)
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Logo à esquerda, há várias obras de Escher pelas paredes, e, no final do corredor, a "Escada Virtual" é facilmente percebida. Como de praxe, a ilusão é característica marcante desta produção. Remete à litografia "Relatividade", de 1953, e foi montada na frente de um espelho inclinado, dando a sensação de continuidade da imagem. Além disso, não importa de onde se observa a escada: você sempre terá a mesma imagem perfeita da litografia.

" Sala do Impossível"
(Foto: Marcos Muzi)
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Por último, ao lado direito da sala de exposição do segundo andar, o destaque fica para a "Sala do Impossível", da qual, em uma janela, é possível observar a imagem de um gato em cima de um banco e de um livro. Quando se visualiza a outra janela, percebe-se que o gato e os objetos estão flutuando. O mesmo espaço divide dois universos diferentes. Como é possível? Bem, estamos falando de Escher, logo, não é possível...

O primeiro piso é, certamente, o mais completo em termos de atrações visuais. É neste andar em que pode ser assistido o filme em 3D de oito minutos sobre as obras do artista, chamado de "O Vale da Realidade Virtual". Conforme a organização da exposição, o filme é um passeio pelas obras de Escher, onde se visualiza, em três dimensões, a maneira como o artista brincava com o mundo que nos rodeia a partir de construções que são impossíveis no mundo real. Nele, algumas construções de obras famosas do holandês são desmontadas para mostrar o ângulo particular que Escher utilizava para desenhá-las - crucial para gerar a ilusão de ótica desejada.
Quadros em 3D, anamorfose e enigma. (Clique para Ampliar)
Na área externa do primeiro andar, quadros em "3D" nas paredes (reproduções da série "Metamorfose" I, II e III, além de "Ascendente e Descendente") que se movimentam conforme você se movimenta chamam a atenção. Provocam sensações de ação, velocidade, e, principalmente, transformação, que Escher queria transmitir com suas famosas obras da série "Metamorfose". Um efeito realmente fascinante. Esta área é chamada de "Sala dos Lenticulares". Próximo a esses quadros, há uma espécie de vídeo-projeção intitulada Travelling into Escher's Print Gallery, que brinca com o aspecto de repetição, presente em boa parte das obras de Maurits (confira a projeção completa no video que produzimos sobre a exposição). Além disso, há também a "Sala dos Enigmas", que é caracterizada pela presença de três espelhos agrupados e uma reprodução de "Autorretrato com Esfera Espelhada" no chão, refletida pelos espelhos laterais e pelo espelho frontal, sendo novamente reproduzida por eles, criando uma imagem quase perfeita do autorretrato. Próximo aos espelhos, também existem "fechaduras" com retratos de Escher distorcidos na parede (anamorfoses). Dentro das "fechaduras" existem espelhos, e quando se olha por dentro delas, percebe-se que os retratos retomam a posição normal, como se a distorção fosse uma ilusão.
Acima, tela de LCD sensível ao toque; abaixo,
quadro 3D de "Ascendente e Descendente" (Clique para Ampliar)
É interessante notar que, muitas vezes, os espelhos não são percebidos por boa parte das pessoas que observam essas brincadeiras feitas pela curadoria da exposição, e, novamente, torna o segundo olhar à obra importante para a verdadeira compreensão da mesma. Neste mesmo andar também existem reproduções de obras nas paredes, como a famosa "Relatividade" e uma que particularmente adoro,  chamada "Varanda".
Por último, há uma tela de LCD sensível ao toque, próximo ao quadro 3D de "Ascendente e Descendente", onde pode-se tocar, puxar, girar e torcer obras como "Limite Circular I", "Limite Circular III" e "Limite Circular IV" (cenas com o monitor em uso também podem ser conferidas no vídeo produzido pelo nosso blog).

"A Casa de Escher" (Clique para Ampliar)
Finalizando essa visita incrível ao Centro Cultural, chegamos ao subsolo. Nele há a "Casa de Escher", uma instalação que reconstrói o espaço que se vê na obra "Autorretrato com Esfera Espelhada". Ali o visitante pode reproduzir a cena e se ver na esfera espelhada - verdadeiramente, brincar de Escher. Um documentário de 50 minutos também pode ser assistido neste pavimento, além de ser o andar que reúne as principais obras do renomado artista holandês. 


Dicas, contatos e afins

   A exposição se encerra em 17 de julho deste ano. Depois disso, as obras retornarão ao Museu Escher e não serão emprestadas para exposições pelos próximos quatro anos; tudo para preservar as obras do artista.  Isso torna única a chance do brasileiro de conhecer de perto as obras de Escher. Para quem puder conferir pessoalmente a exposição, nós do Arte em Primazia recomendamos uma visita ao Centro Cultural Banco do Brasil!  


Exposição “O Mundo Mágico de Escher”
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro
CEP: 01012-000 - São Paulo (SP)
De 19 de abril a 17 de julho de 2011
Entrada Franca 
Classificação: Livre para todos os públicos
Horário: de terça a domingo, das 9h às 20h.
Bilheteria: de terça a domingo, das 10h às 20h
Fone: (11) 3113-3651/52
E-mail: ccbbsp@bb.com.br

   Confira abaixo links interessantes sobre a exposição e sobre Escher que decidimos compartilhar com você, leitor do Arte em Primazia:


   Gostaríamos também de divulgar o nosso álbum de fotos da exposição "O Mundo Mágico de Escher". Confira:


   Ficamos honrados por sua visita e esperamos que retorne sempre ao Arte em Primazia! Até o próximo post! :)