quarta-feira, 29 de junho de 2011

Conheça o Google Art Project




   A Google iniciou em 1º de fevereiro deste ano um projeto muito interessante e importante em parceria com museus de arte pelo mundo que oferece uma plataforma de visualização similar a tecnologia utilizada no serviço Street View do Google MapsCom o Google Art Project, a gigante de Mountain View oferece um tour virtual com direito a zoom extremamente detalhado em obras de 400 grandes pintores como Met, Versailles, Paul Cézanne, Rousseau, Van Gogh e outros.



   Conforme a empresa, foi necessário 18 meses para mapear mais de 1.000 obras em 17 museus de arte, incluindo The Metropolitan Museum of Art e MoMA em Nova York, The State Hermitage Museum em São Petersburg, Tate Britain & The National Gallery em Londres, Museo Reina Sofia em Madrid, The Uffizi Gallery em Florence e Van Gogh Museum em Amsterdam.
"Cada obra foi fotografada com uma extraordinária alta resolução com captura 'gigapixel'. As imagens contém cerca de 7 bilhões de pixels, algo 1.000 vezes mais detalhado do que uma câmera digital média", explica a Google. Além das mais de mil obras disponíveis para visualização, o projeto disponibiliza também 17 obras em super resolução.  Os visitantes do site podem ver detalhes das pinturas muitas vezes até difíceis de serem observados a olho nu.




O site também permite que cada cibernauta crie a sua coleção de arte virtual pessoal e compartilhe com outras pessoas. O Google Art Project também utiliza a tecnologia do serviço Picasa e Google App Engine para hospedar as imagens e oferecer uma navegação como um aplicativo web.


terça-feira, 7 de junho de 2011

Post Inaugural - Fundação Iberê Camargo

   O Brasil é um país de rica, admirável, e, verdadeiramente, invejável diversidade cultural. No que diz respeito ao cenário das artes, não poderia ser diferente. Artistas fabulosos como Candido Portinari, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Di Cavalcanti deixam isso evidente em suas obras.
   Entretanto, no meio de tamanha diversidade, paisagens deslumbrantes - que encantam os estrangeiros - e cultura miscelânea, eis que surge, no Sul do país, um artista de obras com aspecto de sobrecarga emocional, paleta de cores geralmente escura, obras pessimistas, muita melancolia e puro expressionismo, aliados à uma técnica robusta de pintura que valoriza ainda mais essas características densas, levando as pessoas a um verdadeiro passeio noturno. Este foi instruído por Alberto Guignard, simplesmente por não se adequar aos métodos tradicionais de ensino. Seu nome é Iberê Camargo.
   Neste primeiro post do Arte em Primazia, você fará uma viagem ao fantástico - e também sombrio - mundo paralelo de Iberê. Comentaremos vida e carreira do pintor, falaremos sobre a Fundação Iberê Camargo e lhe mostraremos algumas obras da exposição vigente "A Linha Incontornável: uma aproximação ao desenho de Iberê Camargo". Além disso, para que conheçamos outras facetas do pintor e algumas de suas histórias, gravamos entrevistas em audio com Eduardo Veras, jornalista, crítico de arte, professor da Unisinos e curador da exposição, além de Cristina Morassutti, mediadora da Fundação.

Vida e Obra de um notório artista gaúcho

Iberê Camargo

     Pintor, gravador e desenhista gaúco de rigor e sensibilidade únicos, Iberê Camargo é um dos grandes nomes da arte do século XX. Autor de uma obra extensa, que inclui pinturas, desenhos, guaches e gravuras, Iberê nasceu em Restinga Seca, no interior do Rio Grande do Sul, em novembro de 1914, tendo passado grande parte de sua vida no Rio de Janeiro. Foi casado por quase toda a sua vida com Maria Coussirat (a famosa "Dona Maria"), esposa, conselheira e braço direito de Iberê. Dona Maria sempre ofereceu suporte para que Iberê jamais parasse de criar. Além disso, ele também amava muito um animal de estimação em especial: Martim, o gato que lhe acompanhou durante alguns anos e serviu de inspiração para algumas telas. Acredita-se que o pintor iniciava a pintura dos rostos de algumas figuras com a imagem de Martim e depois os modificava.
   Desde a juventude, mostrou-se atraído por personalidades independentes, como Guignard e Goeldi. Na Europa, estudou com mestres como Giorgio de Chirico, Carlos Alberto Petrucci, Antônio Achille e André Lothe. Ao longo de sua vida, Iberê sempre exerceu forte liderança no meio artístico e intelectual.
   Teve sua obra reverenciada em exposições de renome internacional, como a Bienal de São Paulo, a Bienal de Veneza, a Bienal de Tóquio e a Bienal de Madri, e integrou inúmeras mostras no Brasil e em países como França, Inglaterra, Estados Unidos, Escócia, Espanha e Itália. Instala-se no Rio de Janeiro e desenvolve uma pintura com características do expressionismo abstrato.
   Organiza os salões Preto-e-Branco em 1954 e Miniatura em 1955, como forma de protesto contra as condições de trabalho dos artistas. Em 1961 é escolhido o melhor pintor nacional na 6ª Bienal de São Paulo. Ensina artes plásticas no Instituto de Belas-Artes do Rio de Janeiro e dá cursos em Porto Alegre (RS) e Montevidéu, no Uruguai. Nos anos 70 redescobre as figuras com a série de gravuras e telas Carretéis, que recebeu grande reconhecimento da crítica. Em 1980, numa briga de rua, mata um homem com um tiro. É absolvido em janeiro de 1981 e, no ano seguinte, volta ao Rio Grande do Sul, onde recupera a figura humana na série Fantasmagoria. Nos anos 90 pinta Idiota. Sua última obra antes de morrer, em Porto Alegre, é Solidão
   O pintor morreu aos 79 anos, em Porto Alegre, em agosto de 1994, deixando um acervo de mais de sete mil obras. Grande parte delas foi deixada a sua esposa e integra hoje o acervo da Fundação Iberê Camargo.



Legenda: "Iberê em processo" é um vídeo que faz parte do acervo audiovisual do artista. Esses vídeos vem sendo liberados aos poucos pela Fundação em função dos direitos autorais. Nestas imagens, observe a forma expressiva com que Iberê produzia - tão dramático quanto suas obras.


Um sonho transformado em realidade

   Iberê sempre sonhou com a criação de um espaço cultural onde sua obra fosse preservada e compartilhada com o mundo. Desde o início da carreira artística, ele e sua esposa se preocuparam em catalogar obra por obra. Ele anotava datas, assinava todos os esboços, fotografias, telas e desenhos finalizados. Sua intenção também era a de trazer a cultura para Porto Alegre, visto que em cidades como o Rio de Janeiro, movimentos artísticos já estavam mais definidos do que no sul do país.

Fundação Iberê Camargo

   Sua antiga amizade com Jorge Gerdau Johannpeter lhe rendeu frutos: um ano após a morte de Iberê, a Fundação Iberê Camargo foi criada, e em maio de 2008, Jorge Gerdau patrocinou a nova sede da Fundação com o intuito de preservar e divulgar a obra do prestigiado pintor brasileiro (e também seu velho amigo), esta arquitetada por Álvaro Siza (seu primeiro trabalho no Brasil). A instituição aproxima o público do pintor e incentiva a reflexão sobre a produção artística contemporânea.
   Localizada à beira do lago Guaíba, a excentricidade predial se mistura com a beleza incomensurável da orla, famosa por possuir um dos pores-de-sol mais bonitos. A cada ano, são organizadas mostras, oficinas, cursos, seminários, encontros com artistas e estudos diversos sobre a obra de Iberê Camargo e sobre questões ligadas à arte moderna. A idéia é disseminar não apenas o legado artístico e intelectual do pintor, mas promover uma reflexão sistemática sobre a contemporaneidade e o fazer artístico.
   A sede da Fundação foi projetada pelo arquiteto português Álvaro Siza, um dos cinco arquitetos mais importantes do mundo. O projeto recebeu o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza e é mérito especial da Trienal de Design de Milão. No Brasil, Siza foi agraciado com a Medalha de Ordem ao Mérito Cultural em 2007 e recebeu A RIBA Gold Medal, que é um dos prêmios mais importantes da arquitetura. 


O incentivo do gosto pelas artes


Interior da Fundação - Hall de Entrada e andares superiores

   O prédio tem salas expositivas, átrio, reserva técnica, centro de documentação e pesquisa, ateliê de gravura, ateliê do programa educativo, auditório, loja, cafeteria, estacionamento e parque ambiental projetado pela Fundação Gaia. A Fundação Iberê Camargo coordena o Projeto de Catalogação da obra de Iberê Camargo, que vem realizando uma ampla documentação e pesquisa a respeito da produção artística e intelectual do artista, bem como de documentos que nos falam de sua vida e obra.
   Seu acervo está dividido em duas partes: uma parte artística e outra documental. A primeira conta com mais de cinco mil obras, entre desenhos, guaches, gravuras e pinturas; a segunda abriga mais de 20 mil catálogos, recortes de jornais e revistas, fotografias, correspondências, cadernos de notas e matrizes. Estas obras são mantidas em uma reserva técnica especialmente projetada para a guarda de todo este grandioso material.
   O ateliê de gravura que pertenceu a Iberê Camargo se mantém ativo por meio do Programa Artista Convidado, que recebe nomes da arte contemporânea para desenvolverem gravuras utilizando, inclusive, a prensa alemã na qual trabalhava o mestre.
   Já o programa educativo visa ao atendimento do público da Fundação Iberê Camargo. Dirige-se aos professores e aos alunos dos ensinos infantil, fundamental, médio, superior e de educação de jovens e adultos (EJA), bem como ao público especializado e ao público em geral. Com orientação do curador pedagógico Luis Camnitzer, o programa abrange a formação de mediadores, a capacitação de professores, a publicação de materiais didáticos, as visitas mediadas e as atividades práticas relacionadas às exposições, priorizando a obra de Iberê Camargo e a sede da Fundação como objetos de trabalho, mantendo o foco na arte moderna e contemporânea. 



As exposições: meios de aproximação com o pintor


"A Linha Incontornável: uma aproximação ao desenho de Iberê Camargo" - Atual exposição de acervo da Fundação
   
   Sempre possui em cartaz, na Fundação, uma exposição principal de acervo com pinturas, gravuras e desenhos de Iberê. Estas duram, em média, 6 meses. A cada exposição, um artista ou crítico de arte é convidado para fazer uma curadoria especial. Este deve apresentar um projeto de exposição para a Fundação que aprova ou não o mesmo. Além dessas, há exposições temporárias com artistas contemporâneos como Regina Silveira, por exemplo, que expôs "Mil e um dias e outros enigmas" recentemente no local, com obras que brincam com as sombras, o volume, a luz e o imaginário.
   A estrutura de uma exposição não deixa de ser um fator determinante para que o público que visita um museu, galeria ou fundação pela primeira vez, goste ou não daquilo que vê. Em "A Linha Incontornável", com curadoria de Eduardo Veras, o princípio e o fim de tudo são os desenhos, enquanto as pinturas entram como verdadeiros comentários sobre os desenhos, conforme disse o próprio Eduardo em nossa entrevista. 


A Linha Incontornável: uma aproximação ao desenho de Iberê Camargo


   A seguir, um texto de Eduardo Veras sobre a inovadora exposição:

   "[...] A seleção que constitui a exposição "A linha incontornável - uma aproximação ao desenho de Iberê Camargo" procura evidenciar que o desenho do artista, mesmo quando pautado pela urgência ou pelo descompromisso, traz a marca que nos acostumamos a admirar em sua pintura e em sua gravura. Encontramos lá o mesmo domínio técnico e formal a serviço da busca apaixonada - insistente, convulsionada - pelo que seria a própria essência do humano. Tanto quanto os óleos plasmados em camadas e sobrecamadas de tinta, a linha do artista se faz incontornável.

Na concepção curatorial desta exposição, quatro vetores foram definidos, a partir dos mais de 3.000 desenhos tombados no acervo da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre. O primeiro vetor compreende os chamados desenhos de formação: aqueles que o artista riscou quando jovem, em fase de aprendizado, mas também aqueles que, em diferentes momentos de seu percurso, pareciam atados a algum estudo mais sistemático de um modelo, de uma forma ou de uma concepção estética.

O segundo vetor é o dos desenhos insistentes: as imagens que perseguiram o artista ao longo dos tempos, como a do ciclista que percorre um caminho entre a desilusão e o desamparo e termina por abandonar a bicicleta, prostrando-se no vento e na terra.

O terceiro vetor corresponde ao dos desenhos urgentes: anotações rápidas, projeções visuais e mentais que o autor precisava recolher o quanto antes, com o material que estivesse próximo e disponível, para que elas não se perdessem.

Um quarto grupo é o dos desenhos domésticos. O mote vem da atenção voltada para a vida cotidiana, para aquilo que se oferece como pretexto à criação: a jovem esposa dormitando, a mãe e a avó enroladas em seus xales, o amigo lendo, o gato se espreguiçando, o pátio do regimento onde o artista esteve preso.

Claro que não se trata de grupos estanques nem excludentes. Um mesmo desenho pode, eventualmente, figurar em um ou noutro vetor. O que interessa, nesse caso, não é determinar sequências lógicas ou temporais. "A linha incontornável" não tenta adivinhar a ordem das decisões do artista, tampouco se atém às diferenças de estatuto simbólico (croqui versus pintura a óleo, esboço versus obra finalizada). Valoriza, antes, a recorrência de certos temas e certas questões.

Com sorte, nas partes ou no todo, haverá aproximação - e encantamento - com o desenho de Iberê Camargo e com suas circunstâncias de invenção.
"

Esboços dos "Carretéis"
Carretéis
Detalhe: massas de tinta sobre o suporte.
 
   Confira abaixo nossa entrevista com Eduardo Veras, que nos esclareceu algumas dúvidas sobre a função do curador, entre outros aspectos relacionados à obra de Iberê Camargo. Confira também a entrevista com Cristina Morassutti, mediadora da Fundação, que nos explicou vida e obra de Iberê, bem como o funcionamento da Fundação. 


Entrevista com Eduardo Veras, curador da exposição "A Linha Incontornável"

Entrevista com Cristina Morassutti, mediadora da Fundação

Dicas, contatos e afins

   Iberê Camargo é um artista singular que construiu história com as próprias mãos através dos cavaletes, pincéis e com o uso direto de seus dedos nas telas ou com as bisnagas de tinta. A Fundação valoriza seus dotes artísticos como um todo, promovendo uma reflexão introspectiva aos que a visitam, preservando a obra do pintor e também promovendo a questão da arte contemporânea. Nós do Arte em Primazia recomendamos uma visita a Fundação Iberê Camargo! Anote seus contatos:


Fundação Iberê Camargo
Avenida Padre Cacique, 2000.
CEP 90810-240 - Porto Alegre - RS
Fone: (51) 3247-8000
Agendamento de visitas guiadas: agendamento@iberecamargo.org.br

   Separamos alguns links de notícias interessantes sobre o pintor. Confira abaixo!


   Por último, gostaríamos de compartilhar nosso album de fotos da exposição "A Linha Incontornável":

   
   Agradecemos a sua visita e esperamos que continue acompanhando nosso blog!